Merlin
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Alguns filmes só são bons ao assistimos quando somos jovens exatamente por sermos mais inventivos, inocentes e não nos preocuparmos muito com qualidade já que não sabemos analisar isso direito ainda. Merlin (Merlin) devia ser assim, ou pelo menos era o que eu afirmava a minha própria imagem no espelho quando dizia que era meu filme favorito de todos os tempos. Porém eu tive a sorte de achá-lo para vender e comprei sem pestanejar. Cheguei em casa e desesperadamente vi as duas horas e pouco. Passou como um piscar de olhos; não me sentia tão realizada assim há muito tempo e agora tenho a certeza absoluta de que este filme é o meu favorito de todos os tempos (possivelmente batido por Magnolia, mas ainda não assisti Magnolia a quantidade de vezes necessária para ficar páreo a páreo com Merlin)
O longa foi feito para a TV americana, nunca foi liberado nos cinemas (o que eu acho terrível porque, se tivesse, seria muito mágico ver Merlin e Mab se enfrentando nos penhascos na big screen). Conta a história do, ahá!, Merlin o Mago e toda sua trajetória: seu nascimento, vida e dias finais. A narração do filme é feita pelo próprio mago que, já acabado e enrugado, conta suas aventuras nas ruas para ganhar uns trocados já que “ninguém mais acredita em magia”.
Essa é a graça do filme inteiro. Você precisa acreditar. É uma das questões que eu sempre apreciei pois é o que eu acredito - não só sobre magia e sobrenatural - mas qualquer coisa na nossa vida. Se você acreditar, de verdade, por que não pode ser verdade?! Li certa vez em uma revista pesquisas com o cérebro humano que mostraram que quando as pessoas verdadeiramente acreditam em duendes, não estão mentindo quando dizem que os viram: o cérebro delas criou estas imagens e as fez “ver”. Da mesma forma, explicava porque as concepções físicas de fadas são tão diferentes de pessoa para pessoa. Se para você, uma fada é um ser humano minúsculo, é isso que ela vai ser para seu cérebro.
Merlin é meu filme favorito ever e eu vou tentar explicar os porquês. Tem um roteiro extremamente bem desenvolvido. A linguagem pode, por vezes, ser um pouco infantil mas entendam que é um filme para a TV e se houvesse um vocabulário adulto demais não atrairia espectadores infantis, que são o alvo principal das TVs de qualquer modo. O brilhantismo do roteiro está em concentrar a premissa da história no mago. Ele é, ou tenta ser a todo o momento, uma pessoa comum. Ele não escolheu se tornar mago, ele nasceu com isso quando Mab, a rainha da Escuridão em extinção, o criou para que a ajudasse a trazer os Velhos Ritos (Old Ways) para o povo que progressivamente se tornava católico. Depois de ver que Mab - apesar de estar lutando para sobreviver - era maligna até os ossos, Merlin jura que somente usará seus poderes para detê-la. Em vários momentos, ele demonstra ser uma pessoa cansada de tudo e de todos que simplesmente quer viver em paz (com sua amada, é claro, senão não tinha graça) e esquecer que magia existe. Ele nunca quis ajudar Arthur, criar Camelot, lutar contra reis malignos e etc; as circunstâncias o levaram a tais atos. É essa diferente abordagem que traz um quê de fantástico ao roteiro do filme.
Tenho que comentar um pouco sobre os efeitos especiais. Os efeitos especiais são infantis mas lembrem-se de que estamos falando de um filme de 1998. Para 1998, galhos crescendo em fast-foward era muito avançado, se quer saber. As magias que Mab solta na “batalha final” são deveras toscas mas na época era um ó. Dos efeitos especiais, o que mais me diverte sempre que assisto o filme é o jeito de andar da Mab. Basicamente, eles gravaram a atriz Miranda Richardson andando normalmente enquanto mantinham os outros personagens paralisados em cena e depois aceleravam a cena dando a impressão de que Mab andava feito um gremlin eletrocutado.
Para apreciar este filme, é preciso ter muita imaginação e não se sentir ofendido por certas blasfêmias proferidas contra a religião católica (no menu, um rei tirano, outro enlouquecido que matou todos os prisioneiros e o filho desse que traçou a esposa de um Lord fingindo ser o tal e depois largou o filho ao relento – futuro Rei Arthur). Não sou nenhuma estudiosa sobre Merlin, Rei Arthur ou correlacionados, mas a beleza do filme para mim está exatamente em associar eventos mágicos e sobrenaturais que temos conhecimento (entre eles, Excalibur, Morgan Le Fay, a Dama do Lago, o Santo Graal, Lancelot) com a vida de Merlin e da Rainha Mab. São detalhes místicos interessantes que dão um toque a mais.
É lindo de morrer e eu me emociono toda vez que assisto. É meu filme favorito então nada mais justo do que dar-lhe 10/10. Não estaria sendo coerente se lhe desse menos.
A fala destaque fica com Merlin, quando foi procurar um homem de coração puro para guardar Camelot enquanto Arthur seguia em sua busca pelo Santo Graal.
Merlin: it was like a dream, a dream of a dream. The skies parted and I saw the dream come alive before my eyes. Then… one day they’ll describe me, Arthur, Guinevere and Camelot as a dream.
[Merlin wakes up, Galahad is staring at him]
Galahad: Who are you?
Merlin: I’m Merlin the wizard.
Galahad: There aren’t any wizards left.
Merlin: I’m the last of them.
Labels: cinema
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